OS MISTÉRIOS DE WARTHIA LIVRO 4 – O IMPÉRIO DE FOGO

Por Eleonor Hertzog (editora)


AS TREVAS ASCENDERAM, E O IMPÉRIO DE FOGO COMEÇOU.


Se você já escreveu uma tese, um TCC, algum tipo de texto longo e importante, conhece a sensação
maravilhosa de dever cumprido ao colocar o último ponto final na última revisão. E sempre são
muitas, muitas revisões.
Imagine então o que é colocar o ponto final em NOVE ANOS de ideias, escrita, reescrita, revisões,
discussões com amigos leitores e, principalmente, nove anos de convivência com os personagens. Ah,
os personagens! Esses são um capítulo à parte. Se eles se tornam reais e palpáveis para os leitores,
imaginem para a autora. Não é só um ponto final. É como se despedir de amigos de dez anos de
convivência muito próxima.
Denise está de parabéns. Conseguiu fazer essa despedida em alto estilo, respeitando cada uma das
personalidades que habitaram seus livros. Cada um tem seu final, seu desfecho. Uns felizes, outros
nem tanto, mas todos coerentes com a história que contaram e a vida que viveram dentro das páginas.
Enfim, OS MISTÉRIOS DE WARTHIA acabou. E já deixa saudades.
Com vocês, o comecinho do Prólogo, para terem um gostinho do que os espera.

A Penumbra

– SENTE FALTA DELES?
A voz fazia parte do breu ao seu redor. Serafine a ouviu reverberar por todas as partes,
um trovão rasgando o silêncio que devorara sua consciência até aquele momento. Ela não se lembrava da última vez em que conversaram. Cílion, o espírito, a tormenta que fornecia todo seu poder, surgia como um vendaval e desaparecia como uma brisa. Não havia como prever sua chegada porque estava em todos os lugares.
Cílion era parte daquela prisão. Estivera sentenciada a um vácuo silencioso havia milênios, esperando; fora trancafiada entre os pensamentos de Serafine quando os Deuses a despertaram no Ritual da Lua Azul, e permanecera entre as sombras da mente da garota desde então. Sussurrando enigmas e problemas, desafiando Serafine a alçar mais e mais seu controle sobre os elementos, Cílion se tornara seu maior pesadelo sem que a garota percebesse.
E então Sharowfox a trancafiou junto ao espírito, com toda sua escuridão. O golpe da faca maculada pelas Trevas que deveria matá-la acabou por sentenciar a garota a um tempo incontável dentro da própria consciência. Da consciência que também pertencia ao espírito.
Da escuridão que respondia à Sharowfox e que nascia de Cílion.
Para Cílion, aquele era o primeiro passo em direção à liberdade.
Serafine conseguia sentir os anseios da entidade. A sede e fome pelo controle. Cílion queria aquele corpo por completo. Queria vingança contra os Deuses que a haviam prendido ali. Cílion era a mãe de toda a escuridão, e queria devorar o mundo com ela. – Não vai falar comigo? – o espírito provocou. – Eu sou sua única companhia. Serafine se manteve em silêncio.

– Acha que eles entenderam tudo o que Sharowfox disse? – A voz de Cílion estava ao seu lado e então distante, um sussurro ecoando pelo vazio. – Acha que, além desse cárcere, eles temem você? Nós?
Medo e tensão varreram Serafine. Sua outra metade conseguiu sentir.
– É a verdade, Escolhida. – Havia deboche em Cílion. Se Serafine pudesse enxergar alguma coisa, imaginava que a veria ao seu lado, vibrante em cores douradas e prateadas, uma semideusa despida de controle e poder, tal como a garota. imaginaria Cílion como seu próprio reflexo – o que ela realmente era.
Duas metades do mesmo poder. O Abismo da escuridão que corria nas veias de Serafine. Ela era, afinal de contas, a filha da Luz e das Trevas, a criança destinada a carregar o espírito; uma alma que era em parte sua, em parte de uma criatura adormecida e furiosa.
As Trevas respondiam a Sharowfox, mas haviam nascido das mãos de Cílion.
– Está com medo do que o mundo se tornou? – O espírito indagou. Não havia nada além de neutralidade em seu tom, e então um silêncio tranquilo, distante das ondas de emoções tensas que tinham varrido Serafine por instantes.
Antes, Cílion respondia aos chamados da natureza, ao poder dos elementos que a Escolhida precisava controlar, mas estava confinada dentro da garota. Quando Sharowfox condenou Serafine à mesma prisão, criou um caminho para, através dela, Cílion escapar.
As Trevas prenderam Serafine; a mãe das Trevas a libertaria. – Não – ela respondeu, finalmente. Não temia Sharowfox; não mais. As sombras ao seu redor não pertenciam à Feiticeira. Não se curvavam a ela. Não destruiriam tudo por ela. Quando sua criadora as convocasse, elas abandonariam a Feiticeira. – Estou com medo do que ele vai se tornar quando sairmos daqui. Cílion permaneceu quieta. Mas, em meio ao abismo vazio em que estavam trancafiadas havia tempos infinitos, Serafine ouviu seu riso leve se dissipar.

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